segunda-feira, abril 14, 2008

Plop!

O SEGREDO

Há uma palavra que pertence a um reino que me deixa muda de horror. Não espantes o nosso mundo, não empurres com a palavra incauta o nosso barco para sempre ao mar. Temo que depois da palavra tocada fiquemos puros demais. Que faríamos de nossa vida pura? Deixa o céu à esperança apenas, com os dedos trêmulos cerro os teus lábios, não a digas. Há tanto tempo eu de medo a escondo que esqueci que a desconheço, e dela fiz o meu segredo mortal.

Clarice Lispector

Das palavras que matam todos sabiam , mas isso não impedia que as utilizassem indiscriminadamente, até ai nada de muito diferente. Acontece que lá as palavras que matam realmente matavam, e o que era ainda pior, as letais palavras eram diferentes para uns e outros o que logicamente criava um verdadeiro caos urbano.
Por isso o mocinho da nossa historia, que não terá nome para evitar entendimentos forçados, tomava todas as precauções possíveis e até as impossiveis para evitar uma morte acidental ( numero que vinha crescendo absurdamente na cidade nesses últimos anos).
Acontece que o tal mocinho não saia de sua casa sem uma boa proteção para os ouvidos, não conversava com ninguém desconhecido nas ruas, nem andava por lugares desconhecidos, tudo para evitar ouvir as letais palavras.
Estava pois um dia nosso amigo, em sua casa, lendo no jornal o caso de um homem que morrera depois de ouvir a palavra "cobrador",quando depois de muito tempo começou a pensar nas palavras que ele mais temia. Vieram pois a sua mente com uma rapidez surpreendente,as seguintes: "fim", "vôo", "amor","tempestade", "mar","saudade", "sopa de letrinhas", "manga" e "plop". Essa última lhe chamou a atenção, "plop?" se perguntou , mas isso não era uma palavra, foi então que ele se lembrou, era o som que fez seu peixinho dourado quando foi jogado na privada, seu primeiro contato com a morte. Lembrou da tristeza que sentiu e começou a pensar nas outras palavras que também o atemorizavam e para sua surpresa percebeu que nunca as tinha experimentado e a partir desse momento decidiu não mais fugir delas , busca-las , mas não para encontrar a morte , mas para descobrir a vida.

2 comentários:

sblogonoff café disse...

Rs!
As palavras, mesmo as interjeições, fazem parte do universo que pretendemos construir para nós.
Com fones de ouvido, perde-se o contato.

Alguém já diz por aí: "Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo." Se um amplia, o outro, por consequência, se amplia também!

Gostei do seu post!

Sopro de Eves!

Amora disse...

E há quem diga por aí que em outros mundos as palavras têm poderes, dentre eles, o de criar mundos...